Brasil. – DOS MUJERES Y UN DIALOGO PARA EL FUTURO

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Aparecida en la revista Piel de Leopardo, integrada a este portal.

A economista Hazel Henderson (abajo) participou, em 2005, aqui na Unisinos, do «Simpósio Internacional Terra Habitável», promovido pelo Instituto Humanitas Unisinos.

Sobre o livro, conversamos com Rose Marie Muraro, por telefone. Confira o que a escritora fala sobre a obra e sobre a conjuntura brasileira neste ano de eleições. Formada em Física e Economia, Rose Marie Muraro publicou diversos livros. Nos anos 1970, foi uma das pioneiras do movimento feminista no Brasil.

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O que motivou a união da senhora com a economista Hazel Henderson para escrever um livro? O que há de comum entre vocês?

–Eu tenho todo um pensamento a respeito do Brasil e a respeito da política e da economia internacional. E a Hazel foi a única economista que eu conheci que trazia idéias novas do ponto de vista de uma economia amorosa, em que, em vez de priorizarmos o lucro, priorizamos os valores humanos. E hoje, com a espécie humana à beira da extinção, vemos que a competição, os valores financeiros na frente dos valores humanos é que estão destruindo o mundo. É a competição que faz os ricos ficarem cada vez mais ricos, e os pobres ficarem cada vez mais pobres.

O hiperconsumo está destruindo o mundo. Por isso, nós precisamos de uma economia baseada no princípio do «ganha-ganha», como a Hazel diz. Eu já pensava assim e quando li a obra dela fiquei encantada, dizendo: «eu preciso conhecer essa mulher». Nós tivemos um encontro em São Paulo e eu expliquei meu pensamento e ela. Foi quando ela disse que queria escrever um livro comigo.

–Por que o título » Diálogo para o futuro»? Que informações a obra traz que podem nos ajudar a refletir sobre o futuro da humanidade?

–A situação da humanidade hoje é muito mais severa, muito mais violenta do que era dez anos atrás. Nós aceleramos a destruição da espécie humana ao invés de fazer algo por ela. E eu estou publicando um livro chamado História do Meio-Ambiente onde eu ponho os dados das Nações Unidas, dizendo que a vida marinha está morrendo e são 3 bilhões de pessoas que dependem da proteína da pesca.

Daqui a 30 anos serão 7 bilhões de pessoas e da maneira como os mares estão sendo depredados fica difícil achar proteína. É importante termos as formas alternativas, como o biodiesel, porque o petróleo não resiste mais 30 anos, segundo os cálculos das Nações Unidas no seu programa para o meio ambiente. E se plantarmos a terra inteira esgotaremos os solos. Então é uma situação muito delicada, muito terrível a da espécie humana nessa primeira metade do século XXI.

–O que caracteriza o foco de vocês como «visões libertárias»?

–Visão libertária é o nosso esforço, cada um no seu meio, de transformar a economia competitiva numa economia que valorize o ser humano. O que precisamos fazer no plano internacional não é uma luta de classes, mas uma aliança de classes, de colaboração.

Em primeiro lugar, no plano das empresas, e em segundo lugar, no plano da macroeconomia. Inclusive para se fazer isso devem ser mudadas as contas nacionais, tem que mudar o fluxo financeiro, a natureza da organização mundial de comércio. É preciso uma monitoração da sociedade como um todo.

Há a necessidade de um orçamento participativo, de reverter os padrões de consumo, reverter a publicidade. O protocolo de Kyoto foi apenas um cosmético. As reduções dos gases estufa não podem ser só de 5%, mas de 60%. O pior poluidor, que são os Estados Unidos, não assinaram o Protocolo de Kyoto. Precisa haver pressão das multidões. É um negócio que tem que ser feito pelos 6 milhões de habitantes se quisermos sobreviver. Então, nós fazemos a nossa parte.

–O que vocês entendem como «quase impossível»? O que pode ser visto como impossível de ser pensado na sociedade contemporânea? Onde mora o «quase» proposto por vocês?

–Eu escrevi uma autobiografia chamada Memórias de uma Mulher Impossível. Ele devia se chamar «memórias de uma mulher que escolheu o impossível», mas ficou muito grande. Temos que lutar no âmbito do quase impossível, porque, na medida em que vemos furacões, secas, epidemias, pragas, temos que tomar uma providência. A sociedade fica passiva.

O efeito estufa traz furacões, secas, inundações, correntes marítimas. O degelo dos pólos, da Groenlândia, dos grandes montes, dos Andes, das Montanhas Rochosas, dos Himalaias, isso tudo vai esfriar os oceanos e depois do efeito estufa, teremos uma glaciação, que é esperada ainda para esse século. Glaciação essa causada por motivos humanos. Então, nós pensamos no quase impossível, para não dizer o impossível. Há ainda possibilidade de se encontrar uma maneira de domarmos a fusão nuclear. Vamos ver.

Estamos fazendo o possível e o impossível. A Hazel também dedicou sua vida a isso. Só que como ela é da economia hegemônica ela tem muito mais um eco que vai pra 27 países, 10 milhões de pessoas. Eu atinjo somente um milhão de pessoas.

–Hazel Henderson afirma que dinheiro não é riqueza e defende «a economia do amor». O que significa essa proposta e qual a análise que a senhora faz dela no mundo contemporâneo? Ela é viável?

–Ela é viável. È só substituir o dinheiro pelo escambo, pela troca. E isso tem que se fazer à margem da economia tradicional. Cada real tem 40% de impostos e 20% de juros. Então só sobra para a troca 40 centavos de cada real, que é o que nós realmente ganhamos. O restante nós pagamos. Segundo a Hazel, o escambo é realmente a salvação da humanidade. Em vez de comprar e vender, devemos fazer trocas. É a economia do «ganha-ganha». E essa é a economia do amor, da cooperação, da solidariedade, da partilha. Essas são as bases teóricas desta economia que estamos tentando propor.

–Como pensar em uma sociedade baseada em cooperação? Isso é viável hoje?

–Durante quase dois milhões de anos foi isso o que se fez. Só quando o dinheiro foi inventado, no século VI aC, pelos lídios, quando ele foi tomando vida própria, é que ele foi valendo mais do que a troca. Até então, a troca era mais importante que o dinheiro. A pessoa tinha ganhos. De repente, começaram a se cobrar os juros do dinheiro, pois ele passou a ser vendido, então tinha que gerar lucro. O lucro e os juros nascem com a invenção do dinheiro como metal.

–Qual a análise que a senhora faz da atual conjuntura econômica? Como vê que o governo Lula tem conduzido a política econômica do Brasil?

–A política econômica no Brasil tem dois aspectos. Ela é uma política ortodoxa. O financeiro é prioritário ao sistema produtivo, que está quebrado. A agricultura está quebradíssima. Em 2007 já teremos menos área plantada e vai haver inflação. Além disso, vai aumentar o preço da cesta básica, o que é terrível, por causa dos juros altíssimos que as pessoas não podem pagar. A agricultura tem uma margem muito pequena de lucro. O câmbio flutuante também. O dólar baixou de 30% a 40%.

A agricultura deveria ser subsidiada como nos outros países, para que realmente ela possa ser viável. No ano passado diminuiu em 2 milhões de hectares a área plantada. Nesse ano, está diminuindo de 5 a 6 milhões de hectares, o que é gravíssimo.

Em segundo lugar, em termos internacionais, está havendo uma baixa do dólar, porque está diminuindo o consumo do povo americano, e está havendo um aumento dos juros. Com isso, diminui o consumo. Está havendo um círculo vicioso de baixa de consumo no mundo inteiro, que é muito bom, mas atrapalha a economia. As pessoas tiram o dinheiro do Brasil e o colocam em países que elas julgam mais seguros. O mundo está em uma conjuntura insustentável.

Não é sustentável a grande depredação do meio ambiente causada pelo consumo. Eu estou apavorada.

–O que o Brasil precisa para se restabelecer?

–O Brasil não precisa se restabelecer, ele precisa se estabelecer. O País tem que parar com essa política suicida de juros, fazer com que o sistema produtivo brasileiro se fortaleça, e com que o mercado interno brasileiro se fortaleça sem inflação.

–O que a senhora espera das próximas eleições? Quais são suas expectativas em relação aos candidatos que temos à presidência do País?

–Pelos jornais, Lula ganha. Para o povo brasileiro, baixou o preço dos alimentos, e tivemos um padrão escolar melhor. Lula, como alguns dizem, deu esmola, mas fez a economia do Nordeste crescer 10% ao ano. Esse pequeno dinheiro mudou a natureza da economia do Nordeste. Eu acho que está certa essa política, que nunca foi feita em nenhum governo até hoje, de se dedicar aos extremamente pobres. No entanto, não sei se Lula terá maioria no congresso. Acredito que vai acontecer mais ou menos o que aconteceu no Peru. Teremos o executivo de um lado e o congresso de outro, um brigando contra o outro, o que é terrível.

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* Publicado en la revista del Instituto Humanitas Unisinos, de Brasil.
www.unisinos.br/ihu_online.

Reproducido en Urtica (http://listas.nodo50.org/cgi bin/mailman/listinfo/urtica.

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