Stabat Mater

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Aparecida en la revista Piel de Leopardo, integrada a este portal.

Stabat Mater -do Latim, «Estava a Mãe»- são as duas primeiras palavras de uma das mais belas cantatas de Bach. Texto e harmonia descrevem toda a dimensão da dor de Maria durante a crucifixão de Jesús.

 
Bach compôs o Stabat Mater para uma orquestração muito simples, com dois oboés, um violoncelo e uma viola da gamba, apenas. Talvez querendo destacar toda a pureza e ausência de ostentação da cena da mãe aos pés do filho querido, morto. E o resultado é belíssimo, pois Bach, além de genial compositor era um letrista de grande espiritualidade.

Existe composição mais inspirada que Jesús Alegria dos Homens? Sabe-se que Mozart quando ouviu pela primeira vez o Stabat Mater, escondeu o rosto com as mãos para conter as lágrimas! E fico me perguntando onde estavam as mães de Bach e Mozart? Por que elas não ficaram conhecidas, famosas? A resposta é simples: elas estavam ocupadíssimas em criá-los!

 
fotoPenso que não pode haver maior dor para uma mulher do que assistir, impotente, ao sofrimento de um filho. Eis aí a essência do sentimento que une todas as mulheres: preservar os filhos dos sofrimentos, dos perigos, das privações, das tristezas, dos desconfortos!

 
Há pouco tempo, passei por uma das mais fortes interpelações em minha vida pessoal. Protagonista: uma menina, como tantas desta cidade, mal saída da infância para a adolescência. Eu já tinha visto aquela menina em vários lugares do bairro da Saúde, onde moro. Mas, não tão de perto como a vi na padaria Ronex, bem na esquina da avenida Jabaquara com a rua Paracatu.

Muito magra, descalça, vestido largo e roto, sorriu-me mostrando os seus dentes alvos. Pediu-me para «passar no caixa» os oito pães que pedira ao balconista de cara amarrada. E, como que carregando um troféu, saiu apressada, quase correndo, apertando contra o peito o saco de pães, feito uma mãe que sai em busca de seus filhos. Ao encontro de seus irmãos da mesma exclusão social!

 
Desde aquele dia, de forma recorrente, as lembranças de minha infância vão e voltam. Foi no casarão da Praça Pedro de Alcantara Magalhães, em Muzambinho, Minas Gerais. Lá pude ver muito de perto a luta cotidiana de minha mãe, dona Carmen Sylvia de Podestá Botelho, em poupar das privações os seus quatro filhos.

Sozinha, sem ninguém para ajudar, ela dava conta de todos os serviços domésticos, além dos trabalhos profissionais como costureira-modista. Mulher de um marido mau-humorado, morava com a sogra, que não podia ser contrariada em nada. E, de sobra, com uma cunhada portadora de tédio existencial. Lia Sartre, em francês! Hoje, quando pergunto a minha mãe como conseguia conciliar tudo aquilo, sem «virar a mesa», ela, apenas sorri um sorriso enigmático. Como aquele da Monalisa!

 
Ao captar todos os ângulos da figura de Maria, pode-se concluir que a mulher, na dimensão do Stabat Mater, não é outra coisa senão o que faz de si mesmo para os outros. O filho de Maria, ao morrer pela redenção da humanidade, inundou-a infinitamente com a graça transformadora e regeneradora. E com ela, todas as mulheres deste planeta.

O Dia Internacional da Mulher deve ser lembrado com afeto, com esperança e, sobretudo, com consideração!

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* Professor e Consultor de Empresas para Programas de Engenharia da Qualidade, Antropologia Empresarial e Gestão Ambiental. Membro da SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.

(paulobotelho.com.br).

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