Brasil: – COPACABANA PALACE

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Aparecida en la revista Piel de Leopardo, integrada a este portal.

Que cidade maravilhosa!

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São estas frases que se escutam desde dos picos dos belos morros dessa cidade, dizeres dos admirados turistas da cantada e idealizada cidade do Rio de Janeiro. A beleza explêndida no coração do Brasil. Mas o que haverá de autêntico nas suas ruas e becos?

Será o Rio de Janeiro a cidade que sonhamos?

Esta magia que nos transborda ao extáse da admiração desta apoteose natural.
Conhecida como a cidade do carnaval , um contraste perfeito entre o bem e o mal , o Rio de Janeiro esconde entre suas entranhas a representatividade máxima dos problemas politico-sociais que assolam o país.

Que pena!

A meados dos anos 40, a industrialização chegou pra ficar no nosso continente e também chegou pra ficar no Rio de Janeiro. O exôdo rural surgido nesta epóca aumentou com o passar dos anos, e os trabalhadores que emigraram para a cidade grande também trouxeram consigo a esperança de uma vida diferente. Muito diferente o Rio grande. Rio sofreu com este fenômeno de forma acelerada.

A ocupação de terrenos, a chegada de grande quantidade de emigrantes nordestinos transformam a cidade, e sua forma de vida. Nascendo assim uma nova cultura, e uma nova forma de ver a vida. Uma cultura marginalizada criada nos cinturões periféricos que beiram a cidade. Cinturões belos e compostos por pessoas trabalhadores dispostas a transformar os grandes morros e montanhas dessa bela cidade.

Capital do Brasil até 1962, o Rio de Janeiro foi cenário das mais profundas mudanças históricas ocorridas no Brasil. Este meu Brasil brasileiro, que viu nascer seus filhos ilustres, suas filhas emancipadas e seus cidadãos urbanizados.
Urbanização fria e crua que tranformou a cidade neste visual que conhecemos hoje.

Uma cidade que luta, lamenta e se alegra com as feridas que marcaram este processo de reconstrução, fruto de um desenvolvimento desenfreado e descompromisso de governos sucessivos que estiveram impossibilitados de controlar o crescimento da cidade. Ah! E onde ficou o Rio?

Rio ficou em Copacabana, em Ipanema, no Arpoardor etc., que lutam por sobreviver nesta miséria criada por um desenvolvimento selvagem que tornou a cidade violenta, levando aos cariocas e aos turistas a dormirem e acordarem com medo de serem vítimas deste caótico sitema de descontrole e miséria dessa cidade maravilhosa.

O crime organizado, as facções de traficantes, as mílicias e os batalhões de políciais militares corruptos insistem em impôr leis selvagens, e mortes nas ruas dignificando seu trabalho e seu dever.

“Eu vi o menino correndo, eu vi o tempo……”

O tempo passa, os meninos morrem, as mães choram e não muda nada. Onde estão os governos? Por que permitem que matem a alma desta cidade que tanto tem dado a este país. Esta cidade de gente formosa, de gente linda e desta natureza invejável que nos pemite dizer que temos o cartão postal mais lindo do mundo.

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De verdade é lindo. É o mais lindo sol, a mais linda lua. E o que falta?
Falta perceber que por suas ruas corre história. Na rua do Ouvidor, naquela bela corte onde o Brasil civilizado se iniciou.Em Santa Teresa, na Cinelândia e em todos os cantinhos famosos desta terra que foi testemunha do desenvolvimento desta nação.

O que mais falta?

Falta sentir que se pode viver feliz no meio desta bela natureza. Natureza que será morta se continuamos assistindo o nascimento desta cultura. A cultura da morte.
Mas o que podemos dizer de um país que gasta 37 bilhões de reais em segurança. Que certamente é m pais que pensa que o investimento em seguranca fará com que seus cidadãos se sintam mais protegidos.

Falar do Rio de Janeiro é falar das favelas, da pobreza e da criminalidade que já se tornou a banal no seu dia-a-dia. Ninguém se espanta com nada. Porém sabemos que os que gananham com isso são as empresas que criam novas tecnologias para dissimular o caos no sistema econômico-social.Um sistema criado lá pelos tempos em que os portugueses invadiram esta terra, e implementaram através da empresa colonial européia um sistema feudal. Criaram a escravidão, exterminaram os indígenas e deram inicio a esta nação orgulhosamente chamada “Brasil”.

Mas o Brasil são muitos “Brasis”. Os do Rio de Janeiro, de São Paulo, do Rio Grande do Sul, enfim de 180.000.000 de brasileiros que dia-a-dia convivem com distintas realidades.

Brancos, negros, mestiços, mulatos, ricos, pobres, mendigos, milionários e banqueiros. Assaltantes, traficantes, bicheiros, carnavalescos, filhos todos do Brasil. Realidades que nascem, e nasceram já contaminadas pelo terror do invasor, e que hoje representa este multifácetico retrato colorido pelo avanço e o atraso que podemos contruir neste 507 anos de história.

Várias heranças nos deixaram nossos invasores: a lingua portuguesa, a religiao, a humilhação, a riqueza musical e as técnicas de torturas utilizadas para castigar o escravo desobediente. Também podemos relembrar da santa inquisição perseguidora dos pecadores, e aqueles belos bandeirantes assassinos em série que percorreram estas terras em busca de riqueza.

Mas estes são os nossos heróis, são nossos ilustres heróis. E quem são os heróis de hoje?

Parece que a estrutura valórica de nossos heróis nao mudou tanto assim. São os traficantes das favelas festejados pelos moradores orgulhosos dos favores do tráfico. São aqueles que matam e assassinam criancas inocentes mortas pelos esquadrões da morte.

Podemos também mencionar estes comerciantes que em nome da honra e do trabalho contratam “jagunços” para limpar a área. E também estão aqueles que são a favor da tortura reinante nas penintenciárias brasileiras.
Aqui as meras coincidências entre os heróis de ontem e os de hoje.

Nossa violência de cada dia é a consequência viva do nosso próprio processo histórico. A violência sempre fez parte da cultura brasileira.

Estes descamisados mostrados na televisão acusados de cometer bárbaros crimes também são criação desse descontrole social. Descamisados claramente torturados mostrados por uma imprensa também violenta, que violenta os direitos dos individuos colaborando pouco para solucionar os problemas desse país que mais parece viver uma guerra civil, mas nem a imprensa percebe.

Mas é carnaval, tem copa do mundo, muita praia, suor, e uma propaganda da Ivete Sangalo oferecendo cerveja. Ou seja, cerveja. Pra que mais. Isso é tudo que o país precisa.

Analisemos as estadísticas e vemos a quantidade de crianças mortas no Brasil. Morrem de fome, ou de sede. Quantas crianças, homens e mulheres são torturados minuto a minuto nesta nação da alegria. Ou seja, cerveja.

Enquanto isso um turista pisa neste solo brasileiro, relembra o “pais mais grande do mundo”, e recorda a Garota de Ipanema. Neste momento em que as janelas e portas do Copacabana Palace se abrem para receber dezenas, centanares de turistas que certamente falarão bem dessa. O Copacabana Palace abre e fecha suas portas para que os turistas desfrutem desse sol, atrás das portas.

Atrás da fantasia, da magia de estar num pais em que morrem 120 pessoas por dia. Em sua grande maioria vítimas da violência. A violência nossa de cada dia.
A violência que mata silenciosa e abruptamente por detrás das janelas do Copacabana Palace. Tiroteios, assaltos, assassinatos , sequestros e outros.
Mas onde estão aqueles brasileiros que sim sabem de valores, de príncipios e de honestidade?

Estes milhares de trabalhadores e de individuos que povoam as favelas e as capitais deste grande território chamado Brasil.

Brasileiros que conhecem o sentido da vida, que já ouviram falar de direitos humanos, objetam uma vida digna e sabem que o melhor da vida é a paz. Estes são seres assustados que esperam uma próxima atrocidade para se chocarem e colocarem as mãos para o céu dizendo : “Até aonde vamos chegar?”

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Não cabe nenhuma dúvida que já não temos onde chegar. Não cabe nenhuma dúvida que já não há lugar pra correr. Mas há um lugar que podemos povoar e habitar. Este lugar é nossa consciência. Acho que se nos conscientizamos que somos todos responsáveis pela “banalização” da violência na sociedade brasileira podemos pensar em um lugar pra chegar.

Qual é o projeto de sociedade que temos para o novo milênio? Quais são os objetivos deste país que tem a maior desigualdade de renda do planeta?
Assim como em nosso ensaio proliferam as interrogações, é como vemos o nosso futuro. Cheio de interrogações.

Mas pensemos que um crime como o cometido contra o garoto João Hélio é de responsabilidade de todos, não somente daqueles que o cometeram. Ou seja como podemos permitir que um ser humano seja esquartejado em pleno século XXI?

Como podemos assistir passivos a uma atrocidade dessa natureza? Pelo menos durante a Idade Média os criminosos eram julgados e condenados. Nós assistimos este tipo de ato e nem sequer saímos às ruas indignados com esta bárbarie.

Quem sabe já está na hora de dizer um basta, e criar um projeto de sociedade mais digno não somente para que não apareçam mais “Joãos Hélios”, mas também para que não se gerem mais seres humanos como seus assassinos.Duas caras de uma mesma moeda, ambos vítimas de um sistema ingrato, injusto e deshumano.

Se não somos capazes de mudar este panorama é por que o que nos resta é ver o Brasil continuar batendo recordes do bem e do mal , transformando-nos em uma grande neurose mundial que nos levará a ser classificado como o maior “manicômio”do mundo.

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* Socióloga .

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