Agressão ao Haiti completa cinco anos

914

Fausto Arruda*

A Minustah (Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti), a força de ocupação do Haiti, que é (sub)comandada militarmente pelo Brasil, completou em junho cinco anos. Até o final do ano o Estado brasileiro terá gasto, segundo o Ministério da Defesa, cerca de R$ 700 milhões para custear as despesas de deslocamento e manutenção de suas tropas naquele país. Mas que interesses, afinal de contas, estão por trás desta investida?

O Brasil mantém hoje no Haiti um contingente de aproximadamente 1.200 militares (trocados a cada seis meses) do Exército e do Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha. Até hoje já passaram pelo Haiti cerca de 12.100 militares.

Historicamente, a participação do Brasil em intervenções militares se dava sob o manto do Capítulo VI da Carta da ONU, o qual prevê a manutenção da paz após conflitos internos e ajuda humanitária. Desta feita, porém, a intervenção brasileira se dá de forma abertamente repressora já que a missão é embasada no Capítulo VII da Carta da ONU que prevê a ocupação para "impor a ordem" e não para "manter a ordem" como prevê o Capítulo VI. Convenhamos que, na prática, não há uma diferença tão grande assim entre os dois capítulos, que igualmente atacam a soberania de qualquer país.

Submissão
Efetivamente, o Exército brasileiro está no Haiti para atender a uma imposição dos EUA, cujas forças armadas estão às voltas com a ocupação do Iraque e do Afeganistão. Trata-se de uma incapacidade do amo do norte de manter tropas de ocupação em cada ponto estratégico, necessitando recorrer a forças lacaias espalhadas pelo mundo.

Estão hoje ocupando o Haiti os seguintes países, além do Brasil: Argentina, Benin, Bolívia, Canadá, Chade, Chile, Croácia, França, Jordânia, Nepal, Paraguai, Peru, Portugal, Turquia e Uruguai. Todos, com exceção de França e Portugal, com Estados notoriamente serviçais do imperialismo, principalmente ianque. Interessante notar que Turquia, Peru e Nepal passam por processos revolucionários e suas forças armadas, ao mesmo tempo em que se cacifam perante a metrópole, adquirem mais conhecimento no combate à insurgência, além de utilizar a própria experiência contra os pobres do Haiti.

Ainda pior é o caso do Nepal, que tem tropas no Haiti e no Afeganistão, enviadas quando o rei Gyanendra ainda governava o país. Após a fundação da República, tendo à frente o Partido Comunista do Nepal (maoísta) – que conduziu por dez anos a guerra popular no país e capitulou em 2006 –, as tropas continuam a pisotear a soberania de outros povos.

Política de defesa?
Lá, os criminosos não estavam ligados ao comércio de drogas e nem eram tão organizados, faltando integração entre eles. As gangues haitianas sobreviviam de extorsões, seqüestros, roubos e furtos". Daí ele mesmo concluir que "o Haiti poderia ser visto como um campo de provas, onde aplicaríamos e aperfeiçoaríamos fundamentos doutrinários da organização (pessoal e material), do preparo (capacitação específica) e do emprego (como conduzir operações)".

Em contradição com a afirmação de que o Brasil comandava a Minustah, o coronel afirma que "no Haiti, estávamos diretamente subordinados ao Force Commander (FC) para o emprego relacionado ao Memorando de Entendimentos, entre o Brasil e a ONU…".

Mesmo pintando o seu informe de azul com bolinhas cor de rosas o Coronel não tem como evitar que, sendo Cité Soleil uma região densamente povoada, possamos inferir o tremendo terror que tomou conta da população moradora daquela favela. Assim, ele relata que "…atuamos contra os grupos de bandidos (para capturar ou eliminar) realizando operações de combate e tipo polícia (check-points, patrulhas etc.)". E mais adiante ele fala de operações noturnas e da distribuição de alimentos como se isso fosse capaz de superar os transtornos sofridos pela população.

Lá e cá
Tal como no Brasil, onde o exército e a polícia não respeitam os locais de moradia e a própria residência do povo pobre, para o Coronel não há nenhum incômodo em ter garantido a vitória sobre os "bandidos" após "vasculhadas vielas e casas" se, "ato contínuo, prestamos assistência social e apoio em geral". Ora, no jornal O Estado de S. Paulo do dia 31 de maio o repórter Bruno Paes relata denúncia de moradores da favela Paraisópolis na zona sul de São Paulo, cuja população é de 60 mil habitantes. Durante uma operação da polícia paulista, que durou 82 dias, tiveram seus barracos invadidos sem mandados judiciais; trabalhadores, crianças e idosos torturados; e 51.994 revistas a moradores do bairro. Tudo isso praticado por 400 policiais em 100 viaturas, um helicóptero, 20 cavalos e 4 cachorros. São muitas as coincidências nos métodos dos dois operativos.

*Sociólogo e jornalista. Este texto foi retirado do jornal ‘A nova democracia’.

 

También podría gustarte
Deja una respuesta

Su dirección de correo electrónico no será publicada.


El periodo de verificación de reCAPTCHA ha caducado. Por favor, recarga la página.

Este sitio usa Akismet para reducir el spam. Aprende cómo se procesan los datos de tus comentarios.