Brasil: – RACISMO EXPLÍCITO

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Aparecida en la revista Piel de Leopardo, integrada a este portal.

Os jovens estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), todos brancos de classe média ou de famílias ricas (87%, dados informados pelo próprio movimento) que se posicionaram enfáticamente, de forma acirrada, contra a adoção de sistemas de cotas para negros dentro das Universidades públicas. Acabaram prestando um (de)serviço à sociedade que lhes faculta, que lhes paga os estudos, revelando, explicitando nos muros da escola, a face mais sombria da sociedade em que vivemos. O racismo!

«Negro na universidade só se for na cozinha», entre outros
absurdos! Não importa se os autores das pixações foram estudantes
da UFRGS ou não. O fato de atraírem, com suas posições, o apoio
explícito de grupos neonazistas, é suficientemente sintomático,
alarmante e um grave sinal de alerta.

O racismo no Brasil, até então «classificado» como invisível,
velado etc., etc., agora está na cara (para mim sempre esteve) e é
uma dura verdade que a sociedade brasileira precisa encarar a sério
e definitivamente, para que se possa buscar mecanismos eficazes de
combate, seja no âmbito das Instituições Públicas, seja no
cotidiano. A adoção de políticas afirmativas aponta para um
caminho, se não o ideal, o único que permitirá a médio prazo, uma
possível reversão de um quadro de desigualdade que envergonha-nos
enquanto brasileiros.

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É absolutamente visível o descaso e a forma tendenciosa com a qual
a mídia vem tratando desse assunto tão sério, oportunizando maior
espaço aos históricos detentores de privilégios, entre eles,
pseudo-intelectuais, que através de discursos falaciosos, recheados
de eufemismos baratos, desqualificam e impedem qualquer
possibilidade de uma discussão séria e aprofundada sobre a evidente
desigualdade com que historicamente vem sendo tratada a população
negra brasileira. Essa população representa 48% dos brasileiros,
segundo dados do IBGE, e desse universo, somente 3% freqüenta ou
freqüentou a Universidade.

É ínfima a presença do negro nas Universidades Públicas, nos
bairros de classe média e mais ainda nos bairros ricos das nossas
cidades. Ao contrário do que acontece nas favelas, nas periferias,
e o dado mais cruel, dentro das prisões, onde o negro sempre foi e
continua sendo maioria.

Em 1968 foi aprovada uma Lei, de autoria de um deputado mineiro,
que garantia 10% das vagas do ensino médio e superior, aos filhos
de agricultores e proprietários de terras . Foi um projeto de Lei
amplamente manipulado, que ao privilegiar os filhos da elite rural,
ficou conhecido como LEI DO BOI. Vigorou durante vinte anos sem
nunca ter sido contestada, ao contrário das leis afirmativas que
criam o sistema de cotas para negros, que nem foram totalmente
implantadas e já são contestadas aguerridamente por uma hegemonia
branca que sente-se ameaçada nos seus históricos privilégios.

É imperioso, é urgente deixar a hipocrisia de lado e, de imediato,
adotar o princípio básico que, segundo os especialistas, é o
primeiro passo para a cura de toda e qualquer doença viciosa.
Admitir, antes de mais nada, que existe sim racismo no Brasil, para
que o debate se aprofunde, se qualifique e conduza ao caminho da
justiça. O Brasil só será «um país de todos» quando tiver extirpado
definitivamente do seio da sua sociedade, todo e qualquer tipo de
discriminação.

Conheço de perto e reconheço de longe o preconceito e sei o quão
danoso ele é. Tenho o dever, assim como todo cidadão de bem, de
abominar e repudiar toda e qualquer manifestação preconceituosa. O preconceito, onde quer que se manifieste, além de desqualificar, é como a dor física: não enina nada, não serve para nada, não ser humilhar e o ser humano.

Não quero só opinar. Quero também neste momento manifestar todo meu
apoio e solidariedade à comunidade negra brasileira que sempre foi
e continuará sendo fundamental na construção da nossa identidade
como nação.

É lícito, é democrático, é justo questionar, fiscalizar, discutir e
melhorar cada vez mais toda a lei que tenha por objetivo único
combater a injustiça social. Mas reagir com o único intuito de
perpetuar privilégios, impedindo dessa forma, qualquer
possibilidade de resgate de uma dívida social com essa parcela da
população, é no mínimo confirmar, reforçar, o traço mais odioso que
persiste dentro da sociedade em que vivemos. O da cultura
escravagista.

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Eu gostaria de acreditar, que foi o equívoco na condução do debate
dentro da Universidade que mobilizou uma grande maioria dos
estudantes a posicionar-se de forma tão aguerrida contra o sistema
de cotas, tentando impedir a sua aprovação. Infelizmente, para
mim,(considerando também que as famílias desses estudantes ameaçam
processar a Universidade) o que mais ficou evidente foi um
?espírito de corpo? (corporativismo) e que acabou atraindo a
simpatia de «espíritos de porcos» (neonazistas).

A aprovação desse sistema aponta para uma luz no fim do túnel, e
sob essa perspectiva, a da luz, é que vou encerrar meu manifesto,
na medida em que busco uma explicação para o fato de grupos
neo-nazistas aproximarem-se do movimento estudantil.

É da natureza do vampiro reagir, fugindo de qualquer possibilidade
de contato com a luz. É da natureza de certos tipos de vermes
também.

Parabéns para o Colegiado da UFRGS que aprovou, por ampla maioria,
o sistema de cotas.

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* Se agradece a Carlos Grassioli.
cgrassioli@hotmail.com.

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