Futebol: mentiras fenomenais

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Diego Graciano*

Nascido numa favela carioca, hoje milionário, Ronaldo concedeu uma entrevista grotesca para o jornal Folha de São Paulo. Era uma ótima oportunidade de ouvir um Ronaldo agradecido com a repatriação e com o povo que o abrigou em seu pior momento, ou de conhecer sua face solidária. Mas ficou devendo.

Na sabatina, em que a jornalista Mônica Bergamo se destacou por ser a única crítica do painel de entrevistadores, Ronaldo jurou que nunca usou drogas e falou: “dinheiro nunca influiu em nada na minha vida”. Quem acredita?

O “garoto propaganda” da emissora mais poderosa do país chegou a opinar que a TV Globo “faz um jornalismo responsável, tem um compromisso maior com a verdade”. Ele também agradou o Presidente Lula, a quem havia chamado de “bêbado” em 2006.

O Fenômeno, que não gosta chamar de “fracasso” a péssima atuação da seleção no Mundial 2006, responsabilizou a outros em maior medida daquele vexame. “A preparação em Weggis foi um grande carnaval, a gente não se sentiu protegido. É bom deixar claro que os jogadores não tiveram a ver com isso. Seja pelos torcedores, pela transmissão ao vivo de sessão de alongamento, que acho um absurdo". Sobre os excessos nas suas noitadas na concentração do Mundial, nenhum dos entrevistadores perguntou.

Lembrando um dos episódios mais conturbados na final do Mundial ’98, na qual ele foi uma sombra em campo, Ronaldo criticou seu próprio país “fiquei como o grande vilão, em um outro país eu seria considerado um herói”.

Driblou sem sucesso ao ser questionado sobre uma publicidade onde aparece bebendo cerveja. Segundo o Ministério Público Federal, há incitação ao uso de álcool. Ostentou sobre seu apartamento em Paris e contou que ele ensina falar português seus colegas do Corinthians. A única verdade proferida foi: “ainda não estou em condições de jogar na seleção”.

As preocupações sociais estiveram ausentes. O Fenômeno não se solidarizou com as enchentes do Nordeste. No único comentário que fez sobre o Brasil, utilizou a palavra “malandros”. Disse que prefere uma educação européia para seu filho Ronald: "Ronald é uma criança doce, educada, que não fala palavrão. É praticamente um europeu. Prefiro que tenha amiguinhos europeus a amiguinhos brasileiros. Os brasileiros são muito malandros".

No país que precisa muito da grandeza de seus ídolos, nada comentou sobre alguma colaboração com os mais necessitados.

Nenhum brasileiro ignora a capacidade que Ronaldo tem de surpreender, de dar a volta por cima.
Entretanto, há inúmeros brasileiros anônimos que diariamente dão a volta por cima e, mesmo sem qualquer privilégio, não perdem a dignidade. São também malandros?

Será que um ícone nacional tem o direito de se manifestar de forma tão preconceituosa?

* Jornalista.
www.diegograciano.blogspot.com

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