–Qual foi o seu papel histórico dentro da literatura caboverdiana?
–Embora mencionado nalgumas obras, em verdade o meu papel histórico dentro da literatura caboverdiana é unicamente o mérito de pertencer á Associação dos Escritores Caboverdianos, sediada na Cidade da Praia, Ilha de Santiago.
–De que forma as suas obras contribuíram para a formação de uma consciência nacional caboverdiana e à luta contra a opressão colonial?
–Por terem sido editadas no estrangeiro, só após a publicação de Famintos no Brasil minhas obras constituíram-se em ponto de denuncia que levou a censura a procurar eliminar-me dentro e fora de Cabo Verde. Isso contribuiu para esclarecer lacunas que estavam proibidas e de ampliar-se.
–Que papel desenvolveu seu livro Famintos na luta pela independência do povo caboverdiano?
–Famintos foi dos mais potentes gritos denunciando o desmando da ditadura estabelecida entre nós. Desde então fiquei escrevendo outros temas que se ligavam ao sofrimento de caboverdianos flagelados pelas secas, despotismo e “reinol” no nosso arquipélago.
–Qual foi a contribuição da sua obra literária na valorização e o resgate da língua caboverdiana ou crioulo?
–Acredito que após Cabo Verde, Renascença de uma Civilização no Atlântico Medio, obra etnográfica sem paralelo entre nós e que contem longas amostras da nossa lingua escrita, meu grande mérito foi lançado, informando e estimulando nossos letrados a desenvolverem com desembaraço o inicio da nossa presença na escrita e ficção caboverdianas.
–O senhor forjou a poética e poderosa expressão “caboverdianamente”. O que significa para Luis Romano ser caboverdiano?
–“Caboverdianamente” é para mim, uma esperança e certeza em que se concretiza a nacionalidade a que pertenço: “caboverdiano”, como individuo plenamente consciente da sua identidade nacional e livre.
–Que episódios e momentos da sua vida foram determinantes para a sua formação humana e literária?
–Acima de tudo, o espetáculo de ver compatrícios morrer à fome, sem revolta, esperando pelas chuvas resignadamente, num fatalismo passivo e revoltante, ao desamparo.
–Qual a sua visão de Cabo Verde (sua gente, suas paisagens, sus história, sua cultura, etc.)?
–Minha visão de Cabo Verde estaca-se numa patriótica e renovadora panorâmica de pão e progresso, em cada filho não terá mais necessidade de abandonar sua terra natal, em troca dum emprego eventual no estrangeiro.
–Que autores (romancistas, poetas e ensaístas) influenciaram mais a sua trajetória literária e quais os que mais admira e com que mais se identifica?
–Tive uma infância precoce e deixei-me entusiasmar pela imaginação de algumas figuras expoentes tais como: Cervantes, Dostoievesky, Da Vinci, Victor Hugo, Jules Verne, Camões, Dante, etc…
–Como começou a sua relação humana e literária com Vera Duarte?
–Vera Duarte, minha conterrânea, além de talentosa, é dotada de agressiva imaginação poética que por vezes desarma qualquer interpretação apressada. Foi na Praia que descobri o encanto dos seus poemas e não tive receio em testemunhar-lhe o meu apreço. Ela, a principio, ficou arredia. Com o tempo decidiu arriscar-se e hoje temos uma consagração como poetisa de altos vôos e de segura projeção futura.
–Qual é a sua visão do Cabo Verde pós-independência? Como vê o seu país na atualidade?
–Como testemunha pessoal dos pavores que presenciei em Cabo Verde até 1948, hoje sinto-me recompensado por saber minha terra caminhando para melhor em varios sentidos, especialmente ao saber que a Universidade Caboverdiana está sendo uma realidade.
Que papel desenvolveram o Brasil e do Rio Grande do Norte na sua vida e na sua obra?
–No Rio Grande do Norte, Brasil, vim encontrar uma espécie de paralelismo emocional que me gratificou por me ter arriscado a residir definitivamente neste país. Idêntica sensibilidade popular e fraterna convívio social de que resultou uma quase uniforme forma de sentir e expressar.
–Quais são na sua visão os elos (históricos, culturais, simbólicos, espirituais, etc.) que unem o Brasil e Cabo Verde?
–Por mais curioso que pareça, Brasil e Cabo Verde têm idênticas expressões de convivio na sua formação humana, trazida da Europa e da África. Há um elo sentimental que nos caracteriza, a ponto de não ferir o contacto dessas famílias irmãs, embora separadas pela distância marítima.
–Qual é a sua relação com a literatura brasileira em geral e a potiguar em particular?
–Antes de vir para o Brasil, já tinha largo conhecimento de obras de vanguarda brasileira. o que melhor afectou meu desembaraço com alguns escritores brasileiros, embora de pouco convívio pessoal. Foi aqui que ampliei minha biblioteca com livros brasileiros e quando me deslocava até o Rio e São Paulo, tinha sempre ocasião de refazer contactos, além dos que já tinha aqui no Nordeste.
–Qual foi a sua relação com Luiz da Câmara Cascudo?
–Com Luiz da Câmara Cascudo tive uma dúzia de anos de fraternal convívio. Para mim, ele era um sábio que se dignou acolher-me com sua amizade e sabedoria. seu Dicionário de Folclore Brasileiro distingue-me com palavras de aprêco ao evocar cenas caboverdianas que lhe transmiti. Afora isso o prefácio de Famintos me devaneceu!
–Que mensagem gostaria de deixar ao povo caboverdiano e ao povo brasileiro?
–Ao povo brasileiro, meus agradecimentos por nele ter encontrado o afecto fraternal que nunca me faltou. Ao povo caboverdiano, votos de prosseguir na luta pela cidadania com dignidade e vitórias.
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* Periodista, de la redacción de Tecido Social, periódico electrónico de la Red estadual de DDHH de Brasil.
www.dhnet.org.br.
Addenda
La obra de Luis Romano se condensa principalmente en los siguientes libros:
Famintos (1962): novela escrita en portugués.
Clima (1963): poemas en portugués, criollo caboverdiano y francês.
Cabo Verde-Renascença de uma Civilização no Atlântico Médio (1967): poemas y relatos en portugués y caboverdiano.
Negrume/Lzimparin (1973): relatos, en caboverdiano y traducción al portugués.
Ilha (1991): relatos de «Europáfrica» y de «Brasilamérica», en portugués y caboverdiano.
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