Tentaciones. – ENFRIAR EL PLANETA

1.029

Aparecida en la revista Piel de Leopardo, integrada a este portal.

–Para contrariar o aquecimento global, os climatólogos falam agora de “esfriar” artificialmente a Terra. Isto é sério?

–Sim, infelizmente. Diversas hipóteses estão a ser encaradas. Algumas são muito prospectivas, como o envio de um enorme espelho a meio caminho entre a Terra e o Sol. Tal faria diminuir a luz da terra. Outras são menos futuristas, como as experiências de fertilização dos oceanos de partículas de ferro: este elemento favoreceria a fotossíntese – logo, a absorção do carbono – pelo filoplancton. Diminuindo assim a concentração do gás carbônico responsável pelo “efeito estufa”.

«Poder-se-á também imaginar injetar partículas muito pequenas ou aerossóis na alta atmosfera para que elas esfriem parcialmente os raios solares. Tudo isso faria, teoricamente, baixar as temperaturas médias… No entanto, a realidade é bem mais complicada».

–A tentação de modificar intencionalmente o clima é uma novidade?

–Não. Isso chama-se “geo-engenharia”. Mas este campo de pesquisa manteve-se tabu durante muito tempo na comunidade científica por uma razão simples: difundir a idéia junto dos políticos, dos empresários e do público de que bastaria pôr em funcionamento certos dispositivos para servir de remédio ao aquecimento global é perigoso. Isso levaria à falsa idéia que se poderia injetar sem cessar o carbono na atmosfera terrestre.

«Ora tais dispositivos de geo-engenharia não devem ser senão um último recurso, em caso de agravamento brutal e imprevisto da situação climática.

«Porém, certos climatólogos pensam que é chegada a hora de começar a trabalhar sobre uma tal eventualidade. Para avaliar os numerosos riscos e incertezas e, sobretudo para não fazer crer que se trata de uma solução milagrosa».

–Qual é a solução de resfriamento mais provável?

foto
–O dispositivo de que mais se fala há décadas foi o que foi adotado por Paul Crutzen, prêmio Nobel de química. Com a ajuda de balões, por exemplo, procurar-se-ia injetar dióxido de enxofre na estratosfera que se transformaria de seguida em minúsculas partículas de sulfato. Estes aerossóis refletiriam então parcialmente os raios solares durante anos.

«As conseqüências de um tal efeito-écran puderam ser estudadas a seguir às grandes erupções vulcânicas –como as do El chichon em 1982 e do monte Pinatubo em 1991–. Estes vulcões projetaram dióxido de enxofre que se transformaram numa camada de aerossóis.

«No Pinatubo o efeito foi um abaixamento médio das temperaturas do solo de cerca de 0,5 ºC durante dois anos. Mas atenção: estes valores não mostram a complexidade dos fenômenos observados».

–Quais são os riscos?

–No Verão seguinte à erupção do Pinatubo um arrefecimento foi observado em quase todas as regiões do mundo. No Inverno seguinte, arrefecimentos acentuados foram registrados no mar do Labrador, no Médio Oriente e no Norte de África, ao passo, que, paradoxalmente, se observou um aquecimento na Europa do Norte… Imagine-se a intensa atividade diplomática que se tornaria necessária antes da concretização de tais soluções.

–Podem-se explicar os efeitos colaterais não controlados?

–A injeção de aerossóis perturbaria um fenômeno chamado de oscilação ártico que provocaria aquecimentos locais no Inverno em certas regiões, e o esfriamento se concentraria noutras. Assim no Inverno seguinte à erupção do Pinatubo a descida de temperatura das águas do mar Vermelho levou à mistura de águas de superfície e à subida de elementos nutritivos. O resultado foi uma proliferação de algas que asfixiaram os corais. Efeitos no crescimento de plantas terrestres foram também detetados à escala mundial.

«Com todos esses dispositivos de geo-engenharia não é só a atmosfera que fica em jogo, mas o sistema climático no seu conjunto, isto é, corre-se o risco de se dar um efeito de dominó de grande complexidade. Prever e avaliar os efeitos colaterais à escala mundial exige, antes de tudo, um trabalho científico considerável que envolva climatólogos, oceanógrafos, geólogos, astrônomos, biólogos, agrônomos, etc.

«Além disso, caso esta solução venha a ser encarada por ser menos arriscada, mesmo assim torna-se difícil avaliar as conseqüências em cadeia de uma manipulação em grande escala.

«Imaginemos o cenário: o carbono absorvido é transferido para o fundo do oceano. Uma parte desta matéria orgânica vai logicamente oxidar, consumindo o oxigênio dissolvido nas águas do mar. Podem então formar-se zonas anoxicas, isto é, desprovidas de oxigênio, em certas regiões do oceano. Bactérias capazes de degradar os nitratos desenvolver-se-iam o que produziria um gás, o protozido de azoto (N20) que se escaparia para a atmosfera. Tal teria conseqüências desastrosas para o ambiente uma vez que se trata de um gás com efeito de estufa muito mais poderoso que o CO2».

–Apesar de reticentes, muitos climatólogos mostram-se derrotistas e pensam que tais procedimentos irão ser adotados. Qual é a sua opinião?

–Temos que ver como funciona a diplomacia climática. Numerosos colegas meus mostram-se pessimistas sobre a eficácia das medidas que visam a redução das emissões. Mesmo na Europa, a vontade de desenvolver, rapidamente e em grande escala, alternativas ao petróleo e ao carvão, deixa muito a desejar.

«Os empresários e os políticos têm as cartas na mão. Se os países do Norte não mudarem de atitude acerca das mudanças climáticas, eu temo bem que não haverá grandes hipóteses de escaparmos, daqui a algumas décadas, à adoção de medidas extremas».

Addenda

1. A concentração do gás carbônico (CO2) na atmosfera passou de 280 partes por milhão (ppm) antes da era industrial para 380 ppm hoje em dia. Estima-se que ela se situará entre 540 ppm e 970 ppm por volta do ano 2100.

2. A temperatura média aumentou de 0,8 ºC ao longo do último século, mas o aumento foi de 0,6 ºC nas últimas três décadas, segundo o Goddar Intitute for Space Studies da NASA.

3. Consultar o departamento de geo-engenharia da Universidade de Berkeley (aquí).

El profesor Bard es miembro del Collège de France y uno de los más importantes estudiosos del mundo en la investigación de las causas de los cambios climáticos, en especial del rol que juegan los océanos en ellos.

En esta revista puede leerse un artículo con alcances críticos sobre la geo ingeniería en relación a los cambios climáticos. Ver aquí.

———————————————-

* La transcripción de la entrevista apareció en el foro de intercambio y discusión (Urtica).

También podría gustarte
Deja una respuesta

Su dirección de correo electrónico no será publicada.


El periodo de verificación de reCAPTCHA ha caducado. Por favor, recarga la página.

Este sitio usa Akismet para reducir el spam. Aprende cómo se procesan los datos de tus comentarios.