Carlos Grassioli / Porque era sábado…

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…E porque o tempo se rebelou, amanheceu ensolarado e sem uma nuvem no céu. Coisa rara por aquelas bandas, quando o outono já se anunciava. Saí de casa sozinho, a esmo, tomando o metrô até a Praça da Bastilha; de lá peguei a Rua Saint Antoine andei em paralelas e transversais, passando por uma pequena feira de arte, por brocantes, livrarias, uma pequena orquestra de jovens tchecos, até chegar na belíssima Place dês Vosges, onde, num dia quente, o verão parisiense mesmo nos seus estertores, não deixava dúvidas: o povo todo na rua, na grama, no chafariz…

Tão bonito de se ver uma cidade viva, cheia de gente de todas as idades e de todas as cores na rua. As pessoas em pequenos ou grandes grupos, mas, de certa forma, silenciosas, o que significa ninguém (nem as crianças) berrando, falando alto ou escutando música a todo volume.

Tanto que podia se ouvir lá no cantinho da praça, em frente à Casa de Vitor Hugo, um som envolvente, uma música suave de um duo asiático, ela no violino e ele no violoncelo.
 
Sem querer ser esnobe e considerando, também, a pouca publicidade nas ruas, como é bom curtir uma grande cidade assim!
 
Escolhi um lugar agradável e ali me deixei ficar por um bom tempo. Então saí andando como quem vai pras pitangas, por ruas e ruelas, praças, pracinhas, pequenos jardins, cafés e restaurantes lotados, com mesas  nas calçadas, até alcançar uma ruazinha de nome Rue des Rosiers, que conheço muito bem porque tem lá um pequeno  restaurante (do qual gosto muito, e onde costumo ir toda vez que passo por aquela cidade) chamado Chez-Marianne, simples, preços acessíveis, cuja cozinha mistura comida judaica, grega e árabe de excelente qualidade… e uma excelente cerveja. 

E enquanto deus quis e o diabo dormia, aproveitei calmamente aquele momento de puro prazer. Momento raro de solidão, de anonimato e agora, com sabores e vista para o mundo.

Já entardecia quando me dirigi ao largo do majestoso e neoclássico "Hotel de Ville", que fica próximo ao Sena , para tomar o metrô de volta para casa. Um sol poente se refletia nas águas das fontes, que não cantam mas que se levantam do meio do chão, fechando assim um dia, eu diria, tão generoso para mim.

Não uma felicidade perfeita. Talvez eu até nem a conheça.  Mas uma felicidade simples e simplesmente porque era sábado e tinha sol…e eu estava em Paris.
E porque sou e sempre serei um misto de criança e caipira que gosta de tudo que é bonito, de tudo que tem luz, de tudo que brilha, de boa música, de gente… com a boca cheia de dentes!

E como o outono já se anunciava no amarelo das folhas que caíam no chão, cantei baixinho, com e para meus botões… "Bate outra vez, esperança no meu coração … e já vai terminando o verão…".

Mas não me queixei… nem para as rosas!
 

C.G. e escritor.
 

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