Povos originarios no FMS: “Não somos folclore da humanidade”

Marcelo da Silva Duarte*

 

 

 

 

Povos originários das Américas Latina e Central e da África reafirmam suas culturas e identidades no dia dedicado à Pan-Amazônia no Fórum Social Mundial 2009.

Uma das principais preocupações dos povos originários é fazer a humanidade compreender que o indígena é um sujeito de direitos, um ator político que precisa ser ouvido em função de sua autoridade originária, e não um ornamento a mais na grande festa da democracia que é o FSM.

Toda esta quarta-feira, 28 de janeiro, segundo dia do FSM 2009, foi dedicada ao “Dia da Pan-Amazônia”, que tem como tema “500 anos de resistência, conquistas e perspectivas afro-indígena e popular”. A decisão de dedicar um dia exclusivo à temática da região, que abriga Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela, além da Guiana Francesa, e é a verdadeira protagonista do evento, partiu do Conselho Internacional (CI) do Fórum Social Mundial.

Três palcos, dois na UFPA e um na UFRA, foram montados para os povos dos noves países da Pan-Amazônia dialogarem política e culturalmente com o mundo, no esforço por uma aliança planetária para a preservação não apenas da região, mas de toda a humanidade.

No palco montado na Universidade Rural do Pará, o tema “Identidade”, integrante do painel “Terra e Território, Identidade, Soberania Nacional e Soberania Popular e Integração Regional”, mobilizou povos originários da região Pan-Amazônica, da América Central e da África.

“Nem guardiões, nem caseiros”
Para os representantes dos grupos Caiapós, da região de Altamira, no Pará, e Guajarás, da margem oriental da Amazônia, os povos originários da região pan-amazônica não são nem guardiões e nem caseiros dos interesses do homem branco. A relação estabelecida entre eles e a floresta é de sobrevivência, garantia histórica de sua preservação.

A interferência branca e seu conceito de desenvolvimento, segundo Caiapós e Guajarás, modificaram o equilíbrio da região, estabelecido por séculos de convivência harmônica entre os povos originários, seus verdadeiros donos, e a floresta. O conceito branco de desenvolvimento produz bens que acabam não retornando às comunidades de onde os recursos naturais são retirados.

“Não somos folclore da humanidade”
Para os povos herdeiros das culturas inca e maia presentes na manifestação, nem liberalismo ou socialismo são a solução para os problemas dos povos originários, uma vez que os paradigmas econômico-financeiros ocidentais têm como foco o indivíduo, o que acabou conduzindo a humanidade ao individualismo capitalista.

Segundo a cosmovisão Maia, que valoriza sobretudo a consciência coletiva dos grupos sociais e tem a natureza como centro de suas preocupações, só uma visão plurinacionalista restabeleceria a harmonia entre os povos, e entre a humanidade e a natureza.

É preciso, no entanto, passar do “folclorismo” à ação. Uma das principais preocupações dos povos originários neste Fórum é fazer a humanidade compreender que o indígena é um sujeito de direitos, um ator político que precisa ser ouvido em função de sua autoridade originária, e não um ornamento a mais na grande festa da democracia que é o Fórum Social Mundial.

As atividades, que começaram com a apresentação da Dança do Povo Xikrin, do grupo Caiapó, encerraram-se com as apresentações culturais da tribo Wai-Wai, da aldeia Mapuera, do município de Oriximiná, PA, do Grupo Afroritmos do Amapá, que apresentou a Marujada de Quatipurú, manifestação cultural-religiosa de origem afro-brasileira, e do Grupo de Capoeira do Centro de Estudos de Defesa dos Negros do Pará (Cetempa).

 

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