Brasil, Copa e Olimpíada: lições de planejamento e ética

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Zurique, Suíça, 30 de outubro de 2007. O Brasil é anunciado como palco para a Copa do Mundo de 2014. Dois anos depois, mais precisamente em 2 de outubro de 2009, seria a vez do Rio de Janeiro derrotar Chicago, Tóquio e Madri, sendo escolhida como cidade sede para as Olimpíadas de 2016. Parece que foi ontem… | TOM COELHO.*

 

«Acordo de manhã dividido entre o desejo de melhorar (ou salvar) o mundo e o desejo de desfrutá-lo (ou saboreá-lo). Isso dificulta o planejamento do meu dia.»
(E. B. White)

 

O relato que farei a seguir caberia já em 2007, o que lhe configuraria um caráter ainda mais profético. Mas ainda é digno de registro. Afinal, há um consenso de que muitos são os desafios a serem superados para que ambos os eventos não sejam um fiasco capaz de comprometer a imagem de nosso país.

 

O problema está na infraestrutura sob todos os aspectos. Aeroportos com pátios lotados e saguões cheios, atrasos e cancelamentos nos voos, demora na restituição de bagagem, falta de vagas nos estacionamentos. Infraestrutura viária caótica, com transporte coletivo insuficiente, congestionamentos e falta de sinalização. Estádios e complexos esportivos com cronograma atrasado. Ausência de preparo e treinamento de mão de obra para atender aos turistas. Falta de um plano de segurança e de contingenciamento de crises.

 

Todos estes são aspectos relacionados à gestão pública aos quais devemos acrescentar outros, como rede hoteleira deficiente. A lista é interminável. Contudo, a boa notícia, posso lhes assegurar, é que no final tudo dará certo. Onze anos de experiência em construção civil me permitem lhes dizer o porquê desta crença.

 

1. Planejamento
Não temos cultura de planejamento. Este fato é um resquício do período de superinflação e instabilidade institucional que vivemos entre 1980 e 1994. A
falta de planejamento está presente nas pessoas que não cultivam o hábito de poupar, fazer seguro ou plano de previdência. Está visível no estudante que após quase quatro anos de curso reserva apenas dois ou três meses para fazer seu trabalho de conclusão. Está inerente às empresas, que apenas recentemente começaram a traçar um planejamento estratégico anual para orientar suas ações corporativas.

 

2. Administração do tempo
Decorre do aspecto anterior. Somos uma nação que tem por hábito protelar, procrastinar, adiar. Desrespeitamos veladamente horários em quaisquer tipos de compromisso, seja uma reunião escolar, de condomínio ou na empresa. Chique é chegar atrasado ao casamento, à festa, ao encontro marcado. Bom mesmo é deixar para fazer no último instante.

 

3. Ética
Este é o ponto-chave.
Quando se fala em construção civil, vou lhes confidenciar algumas coisas. A regra do jogo é entrar na obra. Vencer a licitação ou a concorrência, seja pública ou privada, mesmo com margem de lucro muito reduzida. Diante dos riscos, vale até mesmo encarar margem negativa no início da obra.
Sabe por quê? Os grandes ganhos virão depois sob a forma de aditivos contratuais, taxas de urgência, adendos, horas extras e todo tipo de expediente. Funciona assim para a empresa ou consórcio vendedor do certame, bem como para seus subempreiteiros e terceirizados. Este é o princípio ético básico.

 

Por isso, tenham algumas certezas.
Primeiro, todos os orçamentos em curso serão multiplicados por, no mínimo, quatro ou cinco.
Segundo, a partir de 2013, e não antes, as capitais que sediarão jogos se tornarão imensos canteiros de obras.
Terceiro, teremos uma bela Copa e uma incrível Olimpíada. Pena será tomar conhecimento, ao final, do custo de toda esta brincadeira.
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* Educador, conferencista e escritor.
Contatos:tomcoelho@tomcoelho.com.br
Visite: www.tomcoelho.com.br
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